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Eu sempre digo que não gosto de poesia, mas na verdade é ignorância minha. Implicância, talvez. Na faculdade esse período que passou tive aula de Expressão Oral e Corporal. Aí tive que fazer um monólogo com alguma poesia.
Achei muita coisa que me interessou, e perdi horas lendo tudo o que achava de Clarice Lispector e Cecília Meireles.
O escolhido foi esse, da Clarice:
“Grite”, ordenei-me quieta. “Grite”, repeti-me inutilmente com um suspiro de profunda quietude.
[...]
Mas seu eu gritasse uma só vez que fosse, talvez nunca mais pudesse parar. Se eu gritasse ninguém poderia fazer mais nada por mim; enquanto, se eu nunca revelar a minha carência, ninguém se assustará comigo e me ajudarão sem saber; mas só enquanto eu não assustar ninguém por ter saído dos regulamentos. Mas se souberem, assustam-se, nós que guardamos o grito em segredo inviolável. Se eu der o grito de alarme de estar viva, em mudez e dureza me arrastarão pois arrastam os que saem para fora do mundo possível, o ser excepcional é arrastado, o ser gritante.
Não foi o melhor que eu achei. Mas esse me tocou... de um jeito meu, foi uma interpretação minha, que não tem muita coisa a ver com o que ela quis dizer. ... e hoje eu me lembrei dele. No meu caso não chega a ser o grito, talvez até uma coisa contrária a ele. São os meus podres, as minhas falhas, minha falta de controle, minha ansiedade excessiva. Que eu nego, nego até a morte. Mas que não tem jeito, são minhas e vez ou outra aparecem. Quer dizer, sempre aparecem, mas vez ou outra extrapolam. E eu sei o perigo que elas representam e como podem assustar. E não quero estragar nada nem afastar as pessoas que eu amo.
E tudo acaba em engolir minhas fraquezas, passar na locadora e aproveitar o all by myself.
Luiza | 7:32 PM |
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